Dólar sobe e Bolsa cai com mercado à espera de dados de inflação do Brasil e dos EUA
- 24/09/2024
Folha de S. Paulo
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O dólar apresenta alta nesta segunda-feira (23), início de uma semana de divulgações importantes para os mercados, em especial os dados de inflação do Brasil e dos Estados Unidos.
Às 14h53, a moeda subia 0,25%, a R$ 5,533, encerrando a "euforia" causada pelas decisões dos bancos centrais brasileiro e americano na quarta-feira passada.
Já a Bolsa caía 0,26%, aos 130.713 pontos, estendendo as perdas dos últimos pregões.
Após uma semana marcada pelas decisões de juros do BC (Banco Central) e do Fed (Federal Reserve, a autoridade americana), o dólar tem engatado um movimento global de recomposição de perdas.
Só em relação ao real, a moeda americana havia acumulado mais de 2% de queda até sexta-feira, diante da perspectiva e, depois, da confirmação do aumento do diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos.
Aqui, o Copom (Comitê de Política Monetária) decidiu elevar a Selic em 0,25 ponto percentual, para 10,75% ao ano, citando resiliência da economia brasileira. Já o Fed realizou o primeiro corte nas taxas desde 2020, num afrouxamento de 0,50 ponto após temores de desaceleração do mercado de trabalho. Os juros americanos agora estão na banda de 4,75% e 5%.
Os movimentos opostos dos BCs favorecem investimentos de "carry trade" isto é, quando investidores tomam empréstimos a taxas baixas e aplicam recursos em moedas de países de taxas altas para rentabilizar sobre o diferencial de juros.
Desde sexta-feira, porém, a diminuição do impulso inicial tem feito o dólar ganhar terreno novamente. "Teve uma certa euforia com o corte do Fed, embora amplamente esperado, e acho que isso vem se dissipando", disse Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.
"E hoje os investidores estão em compasso de espera defensivo, aguardando agenda da semana que é importante."
Os próximos dias guardam comentários de autoridades do Fed, incluindo do presidente da autarquia, Jerome Powell, e números do índice de inflação PCE (índice de preços para despesas de consumo pessoal, na sigla em inglês) na sexta-feira. A expectativa é por mais pistas sobre os juros americanos.
Já no Brasil, a ata da reunião do Copom deve ser publicada na terça-feira pela manhã, e o mercado também espera mais sinalizações sobre a trajetória da Selic.
O comitê, ao comunicar a última decisão, deixou os próximos passos em aberto e evitou se comprometer com a intensidade e com o tamanho do ciclo de alta de juros. Especialistas ouvidos pela Folha, porém, preevem que a Selic deve entrar em 2025 na faixa de 11% e permanecer neste patamar por um bom tempo.
Nesta segunda, o Boletim Focus projetou que a taxa básica de juros do país deve fechar o ano em 11,5%. Há uma semana, o patamar estava em 11,25% e, há um mês, em 10,5%.
Os economistas ouvidos pelo BC também esperam aumento no IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), que deve fechar o ano em 4,37%, ante projeção de 4,35% na semana passada. Dados do IPCA-15, uma espécie de "prévia" do indicador, serão publicados na quarta-feira.
As incertezas pressionavam as curvas de juros futuros, e os temores com as contas públicas do Brasil ainda aprofundavam a aversão ao risco dos investidores.
O governo brasileiro apresentou o relatório bimestral de receitas e despesas, o que acendeu temores sobre o cumprimento das metas propostas pelo arcabouço.
Embora tenha havido um aumento nos gastos obrigatórios, a melhora na projeção de receitas permitiu desbloquear outras despesas que estavam travadas para cumprir a meta fiscal, que é de déficit zero neste ano. O saldo final dessa combinação de fatores foi positivo para o governo.
Segundo o Ministério do Planejamento, foi liberado R$ 1,7 bilhão em gastos no próximo ano, antes congelado no Orçamento de 2024, e houve um bloqueio adicional de R$ 2,1 bilhões para compensar o crescimento das despesas obrigatórias e evitar o estouro do limite do novo arcabouço fiscal.
Por outro lado, a melhora das receitas permitiu reverter integralmente o contingenciamento de R$ 3,8 bilhões feito em julho. O instrumento é usado para conter gastos quando outra regra fiscal está em risco neste caso, a meta de resultado primário.
Em entrevista coletiva nesta segunda, o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, disse que há um incômodo na equipe econômica com a percepção do mercado sobre a trajetória fiscal e reagiu às críticas de quem vê contabilidade criativa nos números oficiais.
Segundo ele, o governo Lula (PT) segue fazendo ajustes nas projeções para garantir o cumprimento das regras fiscais "sem nenhum tipo de criatividade, sem nenhum tipo de artifício".
O resultado primário é estimado em déficit de R$ 68,8 bilhões, dos quais R$ 40,5 bilhões estão fora do cálculo da meta fiscal. O saldo negativo de R$ 28,3 bilhões fica dentro do intervalo do objetivo perseguido pelo governo, que é um déficit zero, com margem de tolerância de até R$ 28,8 bilhões negativos.
Na cena corporativa, a Santos Brasil disparava 16% em resposta à venda da fatia da Opportunity, antes detentora de 48% da empresa, ao grupo francês CMA. O total soma R$ 6,33 bilhões.
Os papéis preferenciais e ordinários da Petrobras avançavam 1,49% e 1,44%, respectivamente, na esteira da alta do petróleo no exterior. Vale subia 0,44%.
Quase todos os grandes bancos operavam na ponta negativa, com destaque para o Bradesco, que perdia 2,44%, e Santander, a 1,93%.